Lusofonia Record Club encerra primeiro ano de vida com edição de vinil Moacir de todos os Santos de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz

O disco Moacir de Todos os Santos é uma obra que já nasceu icónica, a reunir as composições do inigualável Moacir Santos à condução impecável de Letieres Leite, com os sons peculiares da sua Orkestra Rumpilezz, que esteve recentemente em digressão pela Europa. Trazer um disco desse, com participação de Caetano Veloso e introdução escrita por Gilberto Gil, é uma forma de fechar o nosso primeiro ano com chave de ouro. Com ele, encerramos 2022 com uma edição exclusiva para a Europa/UK que se junta aos discos de José Pinhal, David & Miguel, Nomade Orquestra, Luedji Luna e Monte Cara num ano de muito êxito e aprendizado. E este é apenas um pequeno teaser do que pretendemos fazer, cada vez mais e melhor, com o LRC daqui em diante.

Leo Motta, Lusofonia Record Club

Moacir de Todos os Santos de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz, com edição prevista para 9 de Dezembro, é o vinil que encerra o primeiro ano de vida do Lusofonia Record Club em modo de celebração. Um disco icónico com a participação de Caetano Veloso e Raul de Souza e com texto da contracapa da autoria de Gilberto Gil.

“Alguns anos atrás, Letieres Leite reuniu em Salvador um grupo seleto e eclético de músicos, uns vinte e poucos, negros, mestiços e brancos – todos eles associados às vertentes mais populares ou mais clássico-eruditas da música que se faz na Bahia. Egressos das orquestras de concertos, dos conjuntos de baile, dos terreiros de candomblé, dos clubes musicais cultivadores do jazz e das vanguardas mais recentes do pop internacional, esses músicos se juntaram sob a regência de Letieres – ele, multiartista interessado em promover resgates e impulsionar avanços na música da Bahia e do Brasil”.

Inspirado no grande mestre pernambucano Moacir Santos, que o antecedera em algumas décadas nesse mister de estimular a fusão mais abrangente e profunda das linguagens nas músicas afro-americanas (a estadunidense, a cubana e brasileira), Letieres realizou, no breve período que a vida lhe concedeu, um trabalho de grande envergadura que deixa registrado agora neste disco que nos chega às mãos. Em torno de alguns conceitos amplos de ancestralidade e modernidade e de elementos rítmico-harmônico-melódicos de grande personalidade, Letieres nos oferece neste disco um pouco, um gosto, um gesto, um beijo do seu imenso legado.”

Gilberto Gil 

A Orkestra Rumpilezz, formada em 2006, lança Moacir de Todos os Santos, o último álbum gravado sob a batuta do seu fundador, Letieres Leite.

Letieres partiu abruptamente em Outubro do ano passado, aos 61 anos, quando o álbum estava a ser misturado. O alinhamento do disco contempla sete dos dez temas de Coisas (1965), estreia discográfica do maestro, compositor, arranjador e multi-instrumentista pernambucano Moacir Santos (1926-2006). Raul de Souza (1934-2021) toca o seu magnífico trombone na “Coisa nº 4” e Caetano Veloso participa da faixa “Coisa nº 5 – Nanã” (parceria de Moacir com Mário Telles), cantando em inglês, segunda língua de Moacir, que morou décadas na Califórnia.

Moacir de Todos os Santos é um sonho que começou em 2018, nas gravações de O Enigma Lexeu. Duma conversa entre Letieres e Sylvio Fraga (Rocinante) resultou a ideia de transformar em disco um espetáculo que Letieres tinha dado com temas de Moacir. Foi necessário ampliar o estúdio na Serra Fluminense para oferecer condições ideais à Rumpilezz para gravar. O deck aberto que havia atrás do estúdio ganhou mais três salas, batizadas como Rum, Pi e Lé, os atabaques que nomeiam a orquestra.

Os sócios da Rocinante, Sylvio Fraga e Pepê Monnerat, não pouparam energia para registrar estas interpretações da melhor forma possível. Foram alugados microfones adicionais para que todos os instrumentos tivessem uma captação de máximo nível. Pepê decidiu colocar as três máquinas de fita, de 24 canais, a trabalhar ao mesmo tempo, algo até então inédito em gravações brasileiras. Tudo escrito e ensaiado, chegou a hora de aperfeiçoar a performance dos 22 músicos, – o maestro incluído, embocando a sua flauta em sol – da Rumpilezz.

“Letieres escreveu os arranjos deste disco em um só mergulho, sem consultar os originais, de tão profundamente que conhecia o ‘Coisas’, do Moacir. É um disco absolutamente raro em muitos sentidos. A conexão entre maestros negros geniais, a percussão com papel de protagonista numa orquestra, o conhecimento profundo dos ritmos das matrizes africanas permeando a construção dos sopros cosmopolitas, a dança como guia. E todo trabalho de Letieres é intrinsecamente ativista, colocando muitos pingos nos is em relação à importância incontornável que a música dos africanos escravizados tem na música brasileira. Não tenho dúvida que Letieres nos legou, com seu último disco, um dos trabalhos mais importantes do novo século na música brasileira”, diz Sylvio Fraga, com os ouvidos no futuro.

Moacir de Todos os Santos foi concebido, arranjado e regido por Letieres Leite, dirigido artisticamente por Letieres e Sylvio Fraga, produzido por Letieres, Sylvio e Pepê Monnerat e gravado por Pepê e Edu Costa no Estúdio Rocinante. O disco foi misturado por Pepê – exceto a faixa “Coisa nº 5”, misturada por Michael Brauer – e masterizado por Eric Boulanger (The Bakery).

Com a edição de Moacir de Todos os Santos, o ano de 2022 não podia acabar de melhor maneira para o Lusofonia Record Club, o primeiro clube de vinil por assinatura direcionado para a música lusófona (Portugal, Brasil e PALOP), cujo mercado principal é Portugal. Atua como uma editora focada no e-commerce, com modalidade de subscrição e alguns parceiros de distribuição. O clube funciona por subscrição mas também é possível a compra avulso.

Produz edições de alta qualidade, exclusivas e limitadas, acompanhadas com conteúdo editorial e prensadas em Portugal (Grama Pressing). Os discos trazem sempre algo de único: são inéditos em vinil, reedições de discos icónicos já raros ou edições especiais com novidades para os assinantes. O material impresso conta sempre um pouco sobre a história do lançamento, do artista e do contexto em que tudo aconteceu. Oferece uma experiência completa, da audição à narrativa, da história à colecção.

O Lusofonia Record Club pensa a lusofonia não como um conceito limitante ou um recorte controverso. Nasce justamente nesse espaço de diálogo, para valorizar a riqueza cultural e linguística destes universos ligados pela premissa lusófona. Abraça a multiplicidade dos dialetos que passa pelos sotaques brasileiros, os pesos e calões distintos do Norte ao Sul português, o charme verbal de cada ilha cabo-verdiana e a ancestralidade linguística dos PALOP.

Preservar e promover a herança cultural dos países lusófonos através das gerações é mais que uma missão: é o ADN do Lusofonia Record Club. Num contexto cada vez mais social e diverso, valoriza a verdadeira globalização, que floresce nas diferenças e brilha no valor da nuance. E se não há uma língua única, há entendimento e pertencimento de sobra.

Ao invés da produção de baixo custo, o Lusofonia Record Club opta por um caminho mais amigável ao social e ao ambiental. Prensam na Grama Pressing em Portugal, eliminando a logística internacional, usam energia verde no escritório e estudam ativamente formas de reduzir o impacto do clube.

O Lusofonia Record Club é um projecto de Léo Motta, Tomás Pinheiro e Jorge Falcão que surgiu no início de 2022 com a edição do Vol. I de José Pinhal, até então inédito em vinil, cuja edição esgotou nas duas primeiras semanas.

créditos de João Atala

O clube baseia-se na confiança da curadoria e na aposta da diversidade nas edições. A missão é entregar discos que o assinante vai amar, seja de alguém de quem já se ouviu falar ou duma banda totalmente obscura. É a oportunidade perfeita para diversificar a coleção de discos e abrir a mente a novas músicas.

Um disco que receba os devidos cuidados tem tudo para viver ainda mais que o seu dono. Com um ciclo de vida longo e uma boa dose de carinho, os discos do Lusofonia Record Club vão passar de geração em geração.

O Lusofonia Record Clube teve início no âmbito do Programa StartUp Voucher, do IAPMEI, co-financiado pelo Compete 2020, Portugal 2020 e FSE.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Precisa de ajuda?
Scan the code